É Domingo. Com poucas horas de sono dirijo-me ao meu local de trabalho, que eu odeio, mas tem de ser, uma pessoa precisa de pagar a faculdade. Está cheio de gente, óptimo. Sento-me, e em poucos segundos a fila cresce. "Bom dia, vai querer saco?", pergunto eu, ainda com um tom bem-disposto. "Couve portuguesa? Deixe-me só pedir o código". Senhora idosa balbucia qualquer coisa entredentes. É a vez de outra senhora idosa, amiga da anterior. As duas falam alto, criticam, maldizem. "Desculpe, estes chinelos não têm código de barras". Senhora idosa número 2: BLÁ BLÁ SÓ HAVIA ESSES, '´TÁ BEM O CHINELO FICA CÁ. Nesta altura já tinha eu pedido para me substituirem os chinelos. 5 minutos depois: AH NÃ QUERO CHINELO, 'TOU FARTA DE ESTAR Á ESPERA! (Ai sim? Que bom, vá-se lá embora).
Senhora idosa número 3: Olhe desculpe, está aqui marcado ervilha, e isto é feijão verde. (ASFD#"$%#$&%!) "Espere só um momento, já lhe dou atenção."
"Menina, tem de me resolver este assunto!"
Resposta imaginária simpática: Se trabalhasse cá há uma semana, não cozinhasse e não fizesse compras, não iria saber ver a diferença entre os dois.
Resposta imaginária provável: OH MULHER CALE-SE E DEIXE-ME EM PAZ.
Aparte: O que é que aprendeste hoje de útil para a tua vida futura, hum?
Ervilhas.
Feijão verde.
Também gosto das senhoras que vêm perfeitamente que a cancela da caixa está fechada, eu estou atenciosamente a contar o dinheiro, a luz está desligada, o tapete não anda e não está ninguém. Mas com o ar mais natural deste mundo perguntam: A caixa está aberta? (Não minha senhora, mandámos toda a gente embora e fingimos que íamos fechar, mas estávamos só à sua espera.)
As pessoas idosas não respeitam os mais novos nem quem trabalha. Não compreendem que ninguém nasce ensinado. Não percebem quando a culpa não é nossa. São maldizentes. Na fila de supermercado sopram como não houvesse amanhã, como se isso fosse fazer a fila andar mais depressa. Estão com pressa para quê, para ir para casa ver as Tardes da Júlia ou o Preço Certo?
Obrigada por fazerem do meu dia mais um dia infeliz.
(Peço desculpa pela generalização, há velhinhos muito simpáticos. Mas os outros deram-me cabo cabeça).
